segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

ANO NOVO

"Na passagem do Ano Novo os meus olhos flutuarão na magia de um novo tempo, desejando as melhores lições de esperanças."  Erasmo Shallkytton

ANO NOVO

Como precisamos de ciclos.
A necessidade do fim é a mesma do começo,
Ser pra sempre seria insuportável
E no que se termina tem-se a eterna lembrança.

O pulsar vem em ciclos.
Volta-se à cavidade do coração,
Abre-se, fecha-se válvulas,
Impulsiona-se, oxigênio adentra.
Vai-se, sangue novo, células regar.

A Terra gira em ciclos.
Nasce o sol, vem o calor do dia, encharca retina.
No fim da tarde já se necessita da noite.
Noite dos amores, do descanso, dos sonhos,
E a madrugada se levanta num eterno recomeço.

Ano novo.
No fundo nada se muda, o mesmo viria.
Mas tudo é diferente, tem-se esperança.
Tudo pode-se ir, tudo poderá vir.
E faz-se mais um ciclo,
Para que o mesmo seja diferente,
Fazendo nascer em cada coração
A alegria do começo.

                     Marcelo Faleiros

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

SIMPLESMENTE

"A simplicidade é o último degrau da sabedoria." Khalil Gibran


SIMPLESMENTE


Na bela música a simples nota,
No longo caminho o simples passo,
Na linda praia as tantas ondas,
Na grande mata os tantos arbustos,
Na plena alegria o breve sorriso,
Na grande amizade apertos de mão,
Na imensa saudade escorre uma lágrima.


Na longa vida dia após dia,
Na presença da morte a certeza,
Na eternidade só há dúvida,
Na grande solidão o vazio profundo,
Nos tantos encontros o acalanto,
Nas noites as estrelas se permitem,
Nos dias quentes o sol se impõe.
No entardecer se tem o equilíbrio.

                    Marcelo Faleiros

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

QUANDO OUVI AQUELA MÚSICA

" A música expressa o que não pode ser dito em palavras mas não pode permanecer em silêncio." Victor Hugo

QUANDO OUVI AQUELA MÚSICA

Há sons que trazem mais que sons.
Há a compreensão da energia que se propaga.
Há a perpetuação da pura emoção.
Há na voz, no instrumento, outras dimensões,
Não pertencentes às pequenas razões cotidianas.
Há pactos com deuses, com prazeres puros,
Com os mais puros sentimentos, invioláveis.
Há segredos descobertos na solidão,
Na interpretação, na lágrima de cada face,
Na face prata da lua, na estrela que cintila em nós.


Há sons que trazem mais que sons.
Há o mergulho, azul, no mar da calma,
Há o turbilhão, que pulsa, no fogo da paixão.
Há o silêncio a entrelaçar com cada nota,
Oxigenando o próximo acorde, a nos acordar.
Há olhares renascidos, vida renovada.
E a longa estrada perde a dimensão,
Fazendo com que a vida siga a trilha.


Há sons que trazem mais que sons.
Há, na vida, a trilha do som,
Há, na trilha, o som que nos permite a vida.


 Marcelo Faleiros

terça-feira, 29 de novembro de 2011

DESISTI

"Em face da imprevisibilidade da vida, inventamos Deus, que nos protege da bala perdida." Ferreira Gullar



DESISTI

Já desisti de entender a vida.
E há tempos, de tentar interpretar a morte.
O sangue que escorre arrastando oxigênio,
Levando as tantas emoções, um dia para.
Faz-se o fim do pulsar e o corpo esfria.
As tantas emoções vividas, viram lembranças
Em outros corações que ainda batem.

Já desisti de querer ser eterno.
Trago apenas o certeza do instante,
Que poderá, quem sabe, ser lembrado.
Quem sabe, ser no outro uma emoção,
Possibilitando que o oxigênio de outro sangue,
Pulse mais, com algo que seja bom.
O mais será apenas especulação.

Já desisti de entender Deus.
Sua sabedoria não cabe em mim,
E as tantas vezes que vi injustiças,
Justificadas como sua vontade,
Fez-me mais cético, mais distante,
E hoje, bem mais que antes,
Não compreendo a eternidade,
Ser mais presente no sofrimento.

Já desisti de me entender.
Pois carrego a angústia dos poetas,
Que se rebelam com lágrimas, e inertes,
Gritam o verso, gritam a metáfora,
Que se perde na incompreensão,
No vácuo que envolve os tantos tímpanos.

Já desisti da compreensão.
Hoje, apenas mergulho na água fria
Lavando a aflição das tantas certezas.
E quando respiro, quero apenas meu filho.

Marcelo Faleiros

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

MATHEUS


Escrevi este singelo poema quando olhei para o Matheus pela primeira vez (queria que ele soubesse, mais tarde, o que pensei naquele eterno instante). O amor que se tem por um filho não se dimensiona.


MATHEUS


Dentro de um berço com aquecimento,
Foi onde o vi pela primeira vez
Olhos fechados, boca carnuda, respiração ofegante.
Aquele pequeno instante nunca se desfez.

O olhei com a ternura de um rouxinol,
Com a esperança de uma primavera,
Com a delicadeza de uma pétala,
Com a emoção de um poeta.

Entendi naquele instante
Os vários olhares de meu pai,
Olhares de proteção e acalanto,
Olhares de amor e de encanto.

Vi, naquele segundo tão longo,
Que cordão umbilical não se corta,
Apenas deixa de transportar alimento
E se prende as coisas do sentimento.

Matheus, dádiva de Deus.
Deus por mim tantas vezes questionado,
Deus que o homem insiste em inventar,
Deus que se fez presente e real naquele breve olhar.

Foi naquele instante,
Com lágrimas a embaçar o olhar,
Coração em ritmo desconcertante,
Que entendi o que é verdadeiramente amar!

                          Marcelo Faleiros


terça-feira, 27 de setembro de 2011

SOCORRO


"Socorro alguma alma mesmo que penada, me empreste suas penas, já não sinto amor nem dor, já não sinto nada. " Arnaldo Antunes







SOCORRO

Socorro!
Dê-me sua mão, a faixa não é segura.
Dê-me seu tempo, meu relógio parou.
O sinal vermelho estagnou.
A sirene grita, e a fábrica não pára.
O sol se põe e ninguém vê.
A lua procura lugar na noite,
Noite sem o beijo de despedida no portão.
Sem o sereno a hidratar o último beijo.


Socorro!
O patrão só pensa em dinheiro.
O ladrão se pensa justiceiro.
E o operário em escravidão, é só pena.
O governo, desgovernado entra em choque.
O voto, sem direção, desmonta a democracia.
A aristocracia, a chibatar, a esfolar.
E vamos a cambalear, vamos pelo país,
A chorar pelo eterno futuro.


Socorro!
Dê-me o pequeno tempo de sua atenção,
Os olhares não se vêem, todos cegos.
Nas tantas ruas que se cruzam, só solidão.
Nas tantas escolas, alunos reféns do futuro.
Vesti-se a mentira do vestibular, testa-se.
Socorro, meu coração pergunta, qual a verdade?
E o futuro ficará com uma imensa saudade,
Daquele doce sorriso dado na primeira infância.

Marcelo Faleiros

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

É ASSIM QUE QUERO!

"Onde reina o amor, não há vontade de poder, e onde domina o poder, falta o amor. Um é a sombra do outro." Carl Gustav Jung 


É ASSIM QUE QUERO!

Como desprezo os intelectuais com seu olhar frio.
Recuso-me a associar ao gesto métrico,
Comedido, refletido, dos donos da razão.
Não quero compartilhar da postura ereta do patrão,
Pois não nasci para ficar a contar dinheiro, me dizendo ético,
Fingindo preocupado com o futuro da nação.

Não quero como amigo quem se diz sensato
E olha para o fato sem o grito da emoção.
Não gosto de ser analisado por quem não ama,
Por quem não se perde a correr em chuvas de verão,
Por quem só tem como sonho o poder e a grana.
Não quero como aliado quem analisa por demais meu ato.

Não suporto quem tem vergonha de chorar,
Quem se esconde atrás de um olhar de ferro
E ironiza a emoção, como se esta fosse fraqueza.
Quero ter ao meu lado quem tem a beleza
Do choro sincero, que lava a alma, escoando os erros,
Deixando pleno seu coração na íris de um olhar.

Estou farto dos perfeitos, dos polidos,
Dos que vestem belas e caras roupas sobre os sentimentos.
Quero andar nu, despido das crenças, dos mandamentos,
Quero ser livre para ver o pôr do sol, sem preconceitos,
Só absorvendo a emoção, em gestos simples e primitivos.
Quero minha essência transbordando!

É assim que quero!

Marcelo Faleiros.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

VONTADE DE DEUS


"Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso."
Alberto Caeiro


VONTADE DE DEUS

Já me disseram, tantas vezes.
Que era a vontade de Deus,
Que é o destino,
Para ter calma e esperar,
Que o mundo dá voltas.
Que as coisas irão mudar.

Pois digo.
Deus deve ter mais o que fazer e não pode ser tão cruel.
O destino num universo tão imenso não me cabe.
O tempo da espera vai além de minha existência.
As voltas do mundo me trazem para o mesmo lugar.
As coisas talvez mudem, mas eu mudarei bem antes.

O que me faz continuar a caminhada é simples,
No próximo passo tem apenas o instante do passo dado.
Não sei nem se o rumo é certo, ou se a sola se gasta.
Dou o passo talvez pra me livrar do passado,
Ou quem sabe, me aproximar do fim.

O que me faz continuar a ir sem saber pra onde,
É a possibilidade de saciar a sede no próximo riacho,
Ou sentar-me a sombra da próxima mangueira.
Faço a curva das tantas estradas sem olhar para trás,
E as curvas da vida encobrem parte da estrada,
Diminuindo a dor de algumas lembranças.
E vou indo,  pela vontade de Deus.
Como já me disseram.

 Marcelo Faleiros.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

DOAÇÃO

”A evolução é inevitável, semelhante à forte correnteza de um rio. Permita-se ser conduzido por ela ou será arrastado, talvez o sofrimento venha da tentativa de nadar contra ela.” Murilo Mattei





DOAÇÃO

Dê seu grito, liberte-se.
Dê seu gesto, mostre-se.
Dê sua voz, cante, encante-se.
Dê sua resposta, livre-se das notas.
Dê seu tiro, no alvo, no coração.
Dê seu passo, salte sobre o muro.
Dê seu tapa, bem na cara.
Dê seu basta, abasteça-se.
Dê seu corpo, com tesão.
Dê seu belo, crie com a arte um elo.
Dê seu mergulho, esqueça a fundura.
Dê sua opinião, cante seu refrão.
Dê seu tempo, suma.
Dê seu desprezo, ignore o mundo.
Dê suas costas, dane-se as apostas.
Dê sua palavra, rasque todos os verbos.
Dê seu palavrão, foda-se a educação.
Dê seu fim, acabe com os receios.
Dê seu afeto, faça amigos.
Dê seu amor, tenha filhos.
Dê seu silêncio, tape os ouvidos.
Dê sua alegria, escancare o riso.
Dê sua lágrima, lave as tristezas.
Dê seu olhar, inunde a retina.
Dê seu calor, seu suor a brotar.
Dê sua língua, não perca o beijo.
Dê sua mão, empurre, puxe.
Dê seu cheiro, perfume-se.
Dê sua fome, engula o que puder.
Dê sua mordida, arranque sua fatia.
Dê sua morte, regue os ideais.
Dê sua vida, não viva em vão.

 Marcelo Faleiros.

domingo, 18 de setembro de 2011

TRANSPLANTE

"O importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá." Madre Teresa de Calcutá.

TRANSPLANTE
                
                para Andréia

Naquele dia, primeiro dia que te vi
Só você apoderou de minha visão
Apagando a multidão
Reacendendo meu coração
Ressuscitando tanta emoção.

Depois daquele dia
Só você ficou
Não escoou com chuvas de verão
Ficou aquecendo tantos invernos
Protegeu-se, livrou-me de meus infernos.

Desde aquele dia
Só você sempre me acompanhou
Permaneceu quando ninguém quis
Quis tanto me ver feliz, que se fez em mim
Purificou-me, salvou-me, em mim brotou.

                             Marcelo Faleiros.


sábado, 17 de setembro de 2011

O QUE DIZER?



"Que seja doce a dúvida a quem a verdade pode fazer mal." Michelangelo Buonarroti






O QUE DIZER?


O que dizer das borboletas?
Antes, larva feia no chão a rastejar
Depois, pétalas tão belas no céu a flutuar.

O que dizer do mar?
As vezes azul e liso como um alento
As vezes cinza e mexido como um tormento.

O que dizer do céu?
Em tardes de verão com cor salmão
Em dias de inverno com suas nuvens e sem tom.

O que dizer dos rios?
Agradecendo o aconchego da densa floresta
Ou suplicando o pouco de água que ainda lhe resta.

O que dizer dos grandes amores?
Corações que vibram apaixonados
Ou olhos cheios d’água, por bares, desolados.

O que dizer da vida?
Encanto de dias idos por belos campos
Ou desencanto de dias longos sem encontrar remanso.

O que dizer da morte?
Fim do caminho por mais longa estrada
Ou começo, parto novo, em outra estada.

                     Marcelo Faleiros.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

TEMPO VIVIDO

"O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo." (Mario Quintana)





TEMPO VIVIDO


O que passou permanece em mim,
O tempo não me tira os cheiros da infância,
As caminhadas sem rumo pelo capim
Os tons das tardes e suas nuanças.

O que vivi nunca me deixou de fato,
As brincadeiras com bolas de meia
Os mergulhos em vários riachos
O encanto das noites de lua cheia.

Por mais que entenda o mundo
Lembro-me dos medos de assombração,
Encarnada em cães noturnos
Impedindo-me os sonhos de um sono profundo.

O movimento harmônico de um pêndulo,
Só me faz voltar no tempo
Pra resgatar bem lá dentro
Que carinho de mãe é forma de alimento.

Astros em rotações e translações
Não centrifugam de minha memória
Canções, poemas e muito menos as lições
Do olhar de um pai a contar estórias.

A fumaça que acinzenta o ar
Não absorve a freqüência das sete cores,
Pois as guardei com cuidado e sete chaves
Pra poder abrir e iluminar os grandes amores.

O tempo só me tirou o próprio tempo
E tenho pressa de viver o não vivido,
Cantar novas canções ao sabor do vento, e depois, calmamente
Fechar pra sempre os olhos sem nunca ter morrido.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

SAUDADE

"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar." Rubem Alves

SAUDADE
Saudade,
Barco ancorado em meu pensamento,
Me trazendo a profundeza de um mar
Mar que não pode mais ser navegado.
Belo mar, que te levou para além do tempo.

Saudade,
Do som do vento em seus cabelos
Me trazendo o perfume de tantas flores,
Flores que não brotam mais em meu jardim.
Belo jardim, que ficou por além do tempo.

Saudade,
Vida passada com a pressa do que é bom
Ficando só o olhar solto no horizonte.
Olhar perdido por não querer o futuro.
Triste futuro que ficou só com o tempo da saudade.

                                          Marcelo Faleiros.

sábado, 10 de setembro de 2011

TENHO PENA


"Tenho mais compaixão do homem que se alegra no vício, do que pena de quem sofre a privação de um prazer funesto e a perda de uma felicidade ilusória" Santo Agostinho.

TENHO PENA

Tenho pena
Dos tolos que navegam por tolas rotas,
Arrotando a arrogância, tão necessitados do poder.
Apoderando-se do que não lhes pertence,
Ficando o despeito de não se saber amar.
Dos que só tem a pena para se lamentar,
Escrevendo a sua estória de forma triste.
Dos que não se deixam por lágrimas lavar,
Permanecendo secos em becos de concreto.

Tenho pena
Dos idiotas que se agarram nos estereótipos,
Nos tipos, nos ditos, benditos na ocasião.
Breve vazão, escoando no próximo segundo,
Indo na inércia da moda.
Moldam-se com o que lhes mandam,
Sendo um grande vazio, fundo sem fundo.

Tenho pena
Dos que falam sem ter o que dizer,
Ocupando espaço no silêncio bendito.
Dos que riem sem se ter por que,
Fingindo não ter as tantas tristezas.
Dos que dançam sempre a música da vez,
Na coreografia de gesto fácil, sem alma.
Dos que tem o passo sempre na pegada alheia,
Não deixando, mesmo que pequena, a própria marca.

Tenho pena
Dos que só enxergam na limitação da retina,
Sem a possibilidade da infinita imaginação.
Dos que não se lançam nos abismos das paixões,
Vivendo na planície medíocre de uma rotina.
Dos que tem medo das cicatrizes da vida,
Que nunca se cortam, que não suportam algumas dores.
Dos que atiram contra desarmados,
Sentindo-se poderosos, na tortura dos mais fracos.
Dos que agridem por não se suportarem,
Por ver na coragem do outro sua covardia.
Dos que andam em bando, sem identidade,
Angustiados por não saber o caminho.

Tenho pena
Dos que só riscam, sem correr risco,
Fingindo-se seguros ao futuro que nunca virá.
Dos que tem face de cera, sem rugas verdadeiras,
Sem vincos, sem vínculos, sem um feliz fim.
Dos que sorriem branco em meio aos sem dentes,
Sem se incomodar com as tantas injustiças.
Dos que vão sem ter a verdade do momento,
Fazendo de cada instante, apenas, a imposição da vida.
Dos que fecham os olhos sem sonhar,
Dos que dormem em vida, vendo a vida passar.

 Marcelo Faleiros.



NAVEGAR É PRECISO.


Amyr Klink

Um brasileiro do qual devemos nos orgulhar. Sua viagens nos ensinam a interpretar a vida.
"Quem tem um amigo, mesmo que um só, não importa onde se encontre, jamais sofrerá de solidão; poderá morrer de saudades, mas não estará só."
 Amyr Klink.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

FOTO GENIAL

Sebastião Salgado é genial. Nós brasileiros precisamos urgentemente valorizar o que realmente temos de bom. "O homem que constrói a cidade na verdade é um prisioneiro sob as grades da injustiça social, só lhe restando o triste olhar no fim de tarde" Marcelo Faleiros


                    Foto de Sebastião Salgado.

CEGO

"Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas eu já teria desistido da vida." Saramago (Ensaio sobre a Cegueira)
CEGO
Olho
Nem sempre vejo,
O que vejo é apenas casca
Dentro é que está o que almejo.

Continuo a olhar.
Imagino, penso que agora vejo,
Acredito, finjo que acredito.
Na verdade, é cego meu olhar.

Marcelo Faleiros

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

LUZ



"A beleza não está na cara; a beleza é uma luz no coração." Kahlil Gibran

LUZ


Minha emoção é luz do sol.
Luz que viaja apressada,
Rasgando o tempo no vácuo do universo.
Vira verde, vira química, vira vida.
Pulsa com o vermelho sangue
E vai brilhar na lágrima da saudade sentida.

Minha esperança é luz para vida.
Luz que viaja teimosa,
Rasgando o peito no vácuo do sentimento.
Vira verde, vida paz, vira vida.
Pulsa com o meu coração sonhador
E vai brilhar no olhar da criança esquecida.

Minha paixão é luz para a beleza.
Luz que viaja turbulenta,
Tragando-me como o vácuo de um tufão.
Vira verdade, vira incerteza, vira razão.
Vai oscilante, vai sem precisão a esfacelar a alma
E vou, a te olhar, atrás desta luz que ofusca a visão.

Viver sem amor e viver sem luz.
É ir perdido pela escuridão,
Tateando, cego, tropeçando na mediocridade.
Não tem verdade, não tem paz, não tem razão,
Vive-se inerte, qualquer luz se dispersa, se desfaz.
Só ficando o tempo passado, a certeza do vão.

  Marcelo Faleiros

MULHER

"A mulher alimenta-se de carícias, como a abelha das flores." Anatole France



MULHER


O que de mais belo se vê em uma mulher?
Qual a beleza que mais nos inunda a visão?
De tantos perfumes, qual o que mais se quer?
De tantos amores, qual o que mais marca o coração?


O que de mais triste se vê em uma mulher?
O olhar, perdido, refletido no espelho do tempo?
A lágrima que escorre quando se perde rebento?
O grito contido, reprimido, abafando seus sentimentos?


O que de mais superficial se vê em uma mulher?
As curvas de um corpo escondendo o coração?
A valorização de sua aparência em meio à multidão?
A roupa que veste por sobre a emoção?


O que de mais profundo se vê em uma mulher?
A sensibilidade de quem enxerga em meio à serração?
A capacidade de em seu ventre se ter a criação?
A maior sabedoria para o entendimento da emoção?


Mulher que caminha na beira do abismo,
chorando, cantando, levando em si alimento;
gerando, criando, se apoderando do tempo,
trazendo em si todas as formas do sentimento.

  Marcelo Faleiros.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

MOMENTOS

"A pessoa certa é a que está ao seu lado nos momentos incertos." Pablo Neruda.

MOMENTOS

Há momentos que se sofre mais
Momentos de se ir, de deixar, de crescer.
Momentos pra lágrima lentamente escorrer
E regar a saudade do que não volta jamais.

Há momentos que se esquece da dor
Momentos de vir, de retornar, de renascer.
Momentos pro sorriso, branco e leve, aparecer
E iluminar o caminho, e se ver a bela flor.

Há momentos em que o sonho se torna real
Momentos de acordar, olhar, de viver.
Momentos pra que os abraços lhe venham absorver
Aliviando o impacto do tombo, muitas vezes fatal.

Há momentos em que só se pensa no final
Momentos de gritar, se calar, querer morrer.
Momentos pra se libertar e só desaparecer
E ao pôr do sol, deixar decantar o que faz tão mal.

Há momentos que bastará um olhar
Momentos de amar, sussurrar, permanecer.
Momentos tão nobres que o tempo insiste em correr,
Deixando tão pequeno o tempo daquele infinito olhar.

Há momentos de não se querer mais momentos
Momentos de se deitar, quietar, de não viver.
Onde tantos momentos lhe permitiu perceber
Que calmamente, chegou o momento de morrer.

  Marcelo Faleiros.