terça-feira, 29 de novembro de 2011

DESISTI

"Em face da imprevisibilidade da vida, inventamos Deus, que nos protege da bala perdida." Ferreira Gullar



DESISTI

Já desisti de entender a vida.
E há tempos, de tentar interpretar a morte.
O sangue que escorre arrastando oxigênio,
Levando as tantas emoções, um dia para.
Faz-se o fim do pulsar e o corpo esfria.
As tantas emoções vividas, viram lembranças
Em outros corações que ainda batem.

Já desisti de querer ser eterno.
Trago apenas o certeza do instante,
Que poderá, quem sabe, ser lembrado.
Quem sabe, ser no outro uma emoção,
Possibilitando que o oxigênio de outro sangue,
Pulse mais, com algo que seja bom.
O mais será apenas especulação.

Já desisti de entender Deus.
Sua sabedoria não cabe em mim,
E as tantas vezes que vi injustiças,
Justificadas como sua vontade,
Fez-me mais cético, mais distante,
E hoje, bem mais que antes,
Não compreendo a eternidade,
Ser mais presente no sofrimento.

Já desisti de me entender.
Pois carrego a angústia dos poetas,
Que se rebelam com lágrimas, e inertes,
Gritam o verso, gritam a metáfora,
Que se perde na incompreensão,
No vácuo que envolve os tantos tímpanos.

Já desisti da compreensão.
Hoje, apenas mergulho na água fria
Lavando a aflição das tantas certezas.
E quando respiro, quero apenas meu filho.

Marcelo Faleiros