"… que é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos."
Ariano Suassuna
(foto de Sebastião Saldado)
INJUSTIÇA
Há tantos terços rezados pela procissão,
Tantos joelhos ralados e pedidos de perdão,
Tantos rogam milagres e juram perante a imagem,
Tantas lágrimas em meio à seca e devastação,
Tantas marcas de sangue escorrem pela escada.
Só restando gritos de alivio vendo a morte como solução.
Há tantos becos sem saída pelas cidades,
Tantos muros acumulando pobreza, cercando tristezas,
Tantos apressados, em busca do mísero pão.
Tantos apossados excluindo a grande multidão,
Multidão que vive a pedir perdão de joelhos no chão.
Implorando num grito de alívio a morte como solução.
Há tantos tiros dados para se salvar almas,
Que a devida calma se vai, vai o sonho, cedo,
Bem cedo, e a tristeza se apodera, pouco sobra,
Sobra os tantos pedidos para os deuses, em vão,
E no vão, vê-se o olhar assustado em meio a fé,
A implorar em silêncio o alívio da morte como solução.
Há tanto riso indevido em meio à multidão,
Tantos festivos, por desconhecer a podridão,
Tantos alienados, que não questionam nada,
Tantos a empurrar a imensa engrenagem, girando,
Gerando, moendo a esperança e a pouca dignidade.
Restando, o perdão de deus, e a morte como solução.
Marcelo Faleiros
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