segunda-feira, 29 de outubro de 2012

LIVRE PRISIONEIRO


Os poemas de amor são óbvios, as rimas previsíveis, sempre clichês,.... mas necessários. Eles regam as relações, alimentam o coração, aliviam as durezas, nos livra das grades da solidão.



LIVRE PRISIONEIRO

Veio sem pretensão, sem intenção.
Nos olhares, nos perfumes, nos pulsares.
Veio no encontro de fim de tarde,
No banco de praça, no visgo do olhar.
Na mão dada ao se caminhar.
Na fala ingênua que tenta impressionar,
Na poesia de algum por de sol,
Ou no brilho prata da aliada lua.
Veio sem pretensão e me fisgou.
E quando vi já era amor.
Tão em mim que me fiz refém,
Tão em mim, que me fiz seu.
Tão forte que só me restou ir.
E fui embalado por alguma canção.
Feliz por não ter escolha,
Não ter a dúvida,
A cruel e traiçoeira dúvida.
E fui, acorrentado ao arrepio da paixão.
Livrei-me das escolhas e fui.
E no amor tornei-me feliz refém.
Tornei-me o mais livre dos prisioneiros.

Marcelo Faleiros

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

QUANDO O AMOR ACABA




"Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura." Friedrich Nietzsche  



QUANDO O AMOR ACABA


O que dizer quando o amor acaba?
Quando a chama que queimava, fervendo o sangue,
vai perdendo força, o oxigênio se escassa,
nos olhos já não se esconde a falta do brilho de antes.

O que fazer quando a distância não incomoda,
e o reencontro já não é tão esperado, tão aguardado?
Se a saliva do beijo já não tem o doce do amor
e o toque, que antes arrepiava, agora mal é dado.

Pra onde olhar se nos olhos não se vê o que se quer?
Quando a linha do horizonte nos prende no final da tarde,
o sol se põe dentro do coração, a lua não nasce,
e na escuridão sente-se que o sentimento já não arde.

Pra onde correr, se esconder se chegou o fim?
Fim do que me mantinha vivo, feliz, erguido.
O caminho está num ponto onde não há saída
e a volta não se permite, pois o tempo só tem um sentido.

Como chorar se as lágrimas já secaram,
matando o verde que florescia mesmo no inverno?
Se o broto não resistiu aos puxões que nos deram
e arrancou-se a raiz do que se tinha de mais belo.

Agora me resta gritar, insano na noite,
e com o grito espantar a tristeza,
tentar curar a ferida de tanto açoite
e, com a cicatriz, buscar na vida alguma beleza.

Marcelo Faleiros