domingo, 8 de julho de 2012

PLENITUDE




"...Que minha solidão me sirva de companhia.
Que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo"
Clarice Lispector



PLENITUDE

Que sonhos sobrevivem sem ilusão?
Que esperanças sobram sem as lágrimas?
E as saudades, salgadas, sem mar e lua,
Sem noites de insônia, sem pesadelos,
Sem os tantos apelos, sem os tantos medos?

Que sonhos restam sem fantasias,
Sem algumas hipocrisias, sem ironias?
Que roteiro permite todas as verdades,
Todas as vontades, sem maldades?
Não há quem viva só na rota certa,
Sem se perder no dilema das tantas setas,
Pela contramão, pelo erro do imoral prazer,
Ou se contaminando no mortal veneno das paixões.

Que vida é tão certa que se morre em paz?
Que morte é tão serena que nada fica pra traz?
Quem sabe tanto ao ponto de nem pensar?
Sem o certo ou errado, só com a vida,
Sem necessitar dos tantos sonhos que já perdi?
Sem sangrar, sem rancores, sem raivas?
A vida sem os tantos riscos, sem fiscos,
Certamente, também, será sem amores.

Os amores são como lindas tormentas,
Com plena beleza, mas com angústias e medos.
Com raios, clarões, relâmpagos.
Com sorrisos, arrepios, lágrimas.
Sem precisão, em turbilhão, a derramar.
Encharcando, afogando, a nos levar.
Drenando, brotando, a frutificar.
Ficando na brisa da bonança a plenitude,
Ficando a réstia de sol na calmaria da vida.
Da real vida, da vida realmente vivida.

Marcelo Faleiros

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