'A arte existe, porque a vida não basta!' Ferreira Gullar
METÁFORA
Não
sei nada e vivo a buscar tanto,
E
só me resta a certeza da morte.
Falo,
vivo arremessando palavras ao vácuo,
E
não digo nada que me cicatrize os cortes.
Cortes
profundos de tombos de quem nada sabe.
E
o tempo que passa impiedoso, indiferente,
Pergunta-me
a cada instante:
Pra
quê correr se não se tem chegada?
E
a minha estada, tão breve, a que se deve?
Pra
quê este viver se embebedando de preocupações,
Se
as soluções virão, ou não, independente de minha vontade.
E
lá se vai mais um dia, mais um pôr de sol,
E
lá se vai mais uma rotação, e aqui estou no mesmo lugar.
Pra
quê tanta pressa se não saio do lugar,
Se
os astros, que flutuam, me prendem,
Se
minha vida se resume em sempre voltar.
Meu
alívio vem da poesia,
Só
me resta a poesia,
Que
me leva pelo universo das emoções.
Só
me resta a rima,
Escrita,
cantada, gritada,
Mesmo
gemida em forma de despedida,
Resta-me
uma leve e breve metáfora,
Para
que o viver não seja apenas esperar a morte.
Marcelo Faleiros