sábado, 10 de setembro de 2011

TENHO PENA


"Tenho mais compaixão do homem que se alegra no vício, do que pena de quem sofre a privação de um prazer funesto e a perda de uma felicidade ilusória" Santo Agostinho.

TENHO PENA

Tenho pena
Dos tolos que navegam por tolas rotas,
Arrotando a arrogância, tão necessitados do poder.
Apoderando-se do que não lhes pertence,
Ficando o despeito de não se saber amar.
Dos que só tem a pena para se lamentar,
Escrevendo a sua estória de forma triste.
Dos que não se deixam por lágrimas lavar,
Permanecendo secos em becos de concreto.

Tenho pena
Dos idiotas que se agarram nos estereótipos,
Nos tipos, nos ditos, benditos na ocasião.
Breve vazão, escoando no próximo segundo,
Indo na inércia da moda.
Moldam-se com o que lhes mandam,
Sendo um grande vazio, fundo sem fundo.

Tenho pena
Dos que falam sem ter o que dizer,
Ocupando espaço no silêncio bendito.
Dos que riem sem se ter por que,
Fingindo não ter as tantas tristezas.
Dos que dançam sempre a música da vez,
Na coreografia de gesto fácil, sem alma.
Dos que tem o passo sempre na pegada alheia,
Não deixando, mesmo que pequena, a própria marca.

Tenho pena
Dos que só enxergam na limitação da retina,
Sem a possibilidade da infinita imaginação.
Dos que não se lançam nos abismos das paixões,
Vivendo na planície medíocre de uma rotina.
Dos que tem medo das cicatrizes da vida,
Que nunca se cortam, que não suportam algumas dores.
Dos que atiram contra desarmados,
Sentindo-se poderosos, na tortura dos mais fracos.
Dos que agridem por não se suportarem,
Por ver na coragem do outro sua covardia.
Dos que andam em bando, sem identidade,
Angustiados por não saber o caminho.

Tenho pena
Dos que só riscam, sem correr risco,
Fingindo-se seguros ao futuro que nunca virá.
Dos que tem face de cera, sem rugas verdadeiras,
Sem vincos, sem vínculos, sem um feliz fim.
Dos que sorriem branco em meio aos sem dentes,
Sem se incomodar com as tantas injustiças.
Dos que vão sem ter a verdade do momento,
Fazendo de cada instante, apenas, a imposição da vida.
Dos que fecham os olhos sem sonhar,
Dos que dormem em vida, vendo a vida passar.

 Marcelo Faleiros.



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